No olho do furacão do momento, a produção leiteira foi assunto do encontro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), promovido em Brasília nesta semana. O evento Benchmark Agro/Custos Agropecuários 2025 trouxe análises sobre o cenário mundial do leite, apontando oportunidades e gargalos que influenciam o desempenho do Brasil no mercado internacional.
“A pecuária de leite é uma das atividades mais complexas do agronegócio e exige excelência técnica e dedicação total. A modernização é indispensável, mas precisa estar alinhada ao fluxo de caixa de cada produtor. Quem não acompanhar essa evolução provavelmente deixará o setor”, alertou o gerente de projetos da empresa DeLaval, um dos palestrantes do encontro, Guilherme Corrêa.
Segundo ele, os principais desafios da cadeia, hoje, são a escassez de mão de obra qualificada, a falta de sucessão familiar e a necessidade de fortalecer a gestão técnica e financeira das propriedades.
O próprio presidente da CNA, João Martins, reconheceu que os produtores de leite vivem uma “crise profunda e injusta” com a importação desleal de leite em pó.
“Isso significa perda de renda no campo, propriedades ameaçadas, famílias desamparadas e um risco real de o Brasil perder sua base produtiva de leite”, disse. Martins voltou a reiterar a necessidade de o governo federal combater a prática de comércio desleal e acatar o pedido da entidade de aplicação de direitos antidumping contra países vizinhos.
Conforme levantamento realizado pelo Cepea, em um ano, o preço do leite ao produtor caiu 19%, enquanto os custos permanecem acima de R$ 2 o litro.
Pecuária de corte
Na carne bovina, o cenário global foi de evolução, afirmaram os participantes do encontro da CNA. “A rentabilidade da criação de gado está estável ou em queda, com poucas exceções e dependendo dos preços dos bezerros desmamados”, pontuou o coordenador da rede Agribenchmark, Claus Deblitz, segundo o qual o Brasil apresenta um dos menores custos de produção da atividade, se comparado com outros países produtores.
O pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Thiago Bernardino apresentou uma análise dos sistemas de produção acompanhados pelo projeto Campo Futuro. Segundo ele, no sistema de recria e engorda, a produção de arroba por hectare apresentou crescimento de 7,95% no último ciclo. O sistema de ciclo completo também cresceu e o de cria se manteve linear. Conforme Bernardino, de forma geral, a atividade se paga.
“O cenário da pecuária é muito favorável no mercado nacional e internacional, mas ter uma boa gestão de risco, conhecer os dados técnicos e investir em tecnologia e manejo é fundamental”, completou.