Lúpulo garante rentabilidade no campo

Lúpulo garante rentabilidade no campo

Jovem agricultor de Marau encontrou no plantio do ingrediente essencial para a fabricação de cerveja uma alternativa de agregar valor ao trabalho na propriedade

Poti Silveira Campos
Em janeiro de 2026, quando colher a segunda safra, Vanz espera contribuir com 900 quilos para o total da produção brasileira

Em janeiro de 2026, quando colher a segunda safra, Vanz espera contribuir com 900 quilos para o total da produção brasileira

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Gilnei Vanz, 29 anos, de Marau, é um dos mais recentes produtores de lúpulo do Rio Grande do Sul. A cultura, ainda que pouco expressiva em relação ao volume colhido e ao valor movimentado, encontra-se em expansão nos últimos anos. Para Vanz, a iniciativa está associada ao seu retorno ao campo, depois de um período no qual residiu na área urbana do município, e demonstra a importância do cooperativismo para o desenvolvimento da agropecuária. Neste sábado, 5 de julho, é comemorado o Dia Internacional das Cooperativas.

“Trabalhei um tempo em Marau. Fui trabalhar como empregado e não estava contente. Então, comecei a procurar por alguma cultura que tivesse valor agregado maior do que a soja, que normalmente é o que meus pais plantam. E aí encontrei o lúpulo”, relata Vanz.

Na propriedade de nove hectares, além da soja, a família se dedica à lavoura do milho e à bovinocultura de leite. Vanz reservou um hectare para o plantio de cerca de 3 mil plantas de lúpulo, com um investimento estimado em mais de R$ 150 mil. Vanz afirma ter reaproveitado uma estrutura anteriormente utilizada como aviário na propriedade, o que o ajudou a reduzir custos. Com a Emater-RS/Ascar, o produtor conseguiu orientação para instalar a plantação e encaminhamento para obter financiamento. “O Sicredi teve uma importância fundamental, visto que proporcionou tirar essa ideia do papel e realizá-la. Sem o incentivo financeiro não seria possível viabilizar isso”, afirma o agricultor.

Além dos recursos, Vanz recebeu consultoria em gestão e crédito da cooperativa. “O suporte vai além do crédito. Oferecemos consultoria para que o produtor compreenda o potencial de crescimento do negócio. Também o ajudamos a perceber que, mesmo sendo um pequeno produtor, ele tem, sim, capacidade de acessar crédito e fazer sua atividade prosperar”, explica o diretor executivo da Sicredi Aliança RS/SC/ES, Cristiano Piano.

A cooperativa de crédito, herdeira do legado da entidade pioneira do setor, fundada em Nova Petrópolis em 1902, tem destacada atuação no agro gaúcho e nacional. Entre junho de 2024 e junho de 2025, por exemplo, o Sicredi liberou, em crédito rural, incluindo custeio, investimento, comercialização e industrialização, R$ 17,9 bilhões no Estado, em mais de 140 mil operações. Desse total, em volume, 38,53% (R$ 6,88 bilhões) foram destinados à agricultura familiar. Outros 25,89% (R$ 4,63 milhões) foram liberados por meio do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural. Grandes produtores ficaram com 35,58% (R$ 6,36 bilhões). Operações de custeio absorveram a maior fatia, R$ 10,4 bilhões, sendo a soja a principal cultura favorecida.

Em alguns aspectos, Vanz se enquadra nos principais grupos de perfil do produtor gaúcho estabelecido pela Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo), em um universo de 40 agricultores, É homem (90%) e utiliza até mil metros quadrados para a atividade (70%). Em outros quesitos, no entanto, está nos grupos minoritários. A idade, por exemplo, corresponde a 7,5% do total. Vanz também se situa entre os 5% que tocam o empreendimento em terras da família e nos 5% que contam com mais de mil plantas.

No Brasil, o plantio do lúpulo, assim como o cooperativismo de crédito, teve início no Rio Grande do Sul, por volta de 1860. A evolução da cultura, no entanto, foi interrompida com a morte de seu introdutor no Estado e no país, Curt August Adolf Wilhelm Ernst von Steinberg (1846-1893), um barão que trocou a vida na nobreza de Hannover, na Alemanha, pelo território gaúcho. Hoje, o país, terceiro maior produtor mundial de cerveja, atrás de China e dos Estados Unidos, tem uma participação irrelevante na oferta do lúpulo, ingrediente essencial na fabricação da bebida, responsável por lhe conferir amargor e aroma.

Dos 62,8 mil hectares ocupados pelo lúpulo no mundo todo, 40% estão localizados nos Estados Unidos e 33% na Alemanha. Os dados são de 2020. De acordo com a Aprolúpulo, na safra de 2023/2024, o Brasil dedicou 183 hectares para a planta, menos de 0,3% da área mundial registrada no começo da década. Santa Catarina, Minas Gerais e Rio Grande do Sul são as unidades federativas que lideram a pequena produção nacional, de cerca de 270 toneladas anuais. Em janeiro de 2026, quando colher a segunda safra, Vanz espera contribuir com 900 quilos para o total brasileiro. A primeira colheita, em janeiro deste ano, foi pequena. “O primeiro ano é para fortificar a raiz. Aí não tem muita produção”, explica.

Para o pesquisador agropecuário Alexander Cenci, do Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Alimentos e Bebidas (Ceab), da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), o tímido desempenho brasileiro com a planta se deve a dois fatores. O primeiro seria uma acomodação do sistema produtivo cervejeiro. “Há uma estrutura de cadeia de suprimentos bem organizada, como é o caso do lúpulo. Tem países produtores, empresas que produzem. Assim se constituiu a indústria cervejeira no Brasil”, afirma. O outro aspecto é o que impulsiona e que se constitui no destino das safras mais recentes. “A outra questão é que, agora, a produção de lúpulo está sendo incentivada e motivada pelo fenômeno da cerveja artesanal. É uma nova dinâmica de consumo de cerveja. Não é exatamente a indústria cervejeira em grande escala”, diz Censi.

“É uma cultura nova e bem rentável. Tem suas peculiaridades, como qualquer outra planta. Eu acho que é uma cultura bem promissora”, garante Vanz

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