O futuro mais sustentável da atividade leiteira e a busca permanente da inovação foram algumas das pautas em debate no segundo e último dia da primeira edição do Milk Summit Brazil 2025, na quarta-feira, 15, em Ijuí.
O evento, que reuniu algumas das principais autoridades do setor para debater a cadeia leiteira na principal região produtora do Estado, foi realizado pela Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do RS (Seapi), Sindilat/RS, prefeitura local, Emater/RS-Ascar, Suport D Leite e Impulsa Ijuí.
Entre os palestrantes, o superintendente do Senar/RS, Eduardo Condorelli, destacou a importância social protagonizada pelo leite na melhoria da qualidade de vida das pessoas no campo e também na cidade. E, neste cenário a busca da inovação se torna uma necessidade constante, “o maior desafio dos humanos”, definiu.
Ou seja, é necessário mudar costumes, processos e legislações. “A inovação não está na aquisição de tecnologia, mas na mudança de manejo”, lembrou Condorelli.
E mencionou que 78% de um universo de mais de 5 milhões de agricultores brasileiros nunca receberam assistência técnica e, como consequência, cerca de metade deles produzem apenas para subsistência.
“Temos muitas coisas para inovar”, afirmou. Entre as inovações está e busca pela sustentabilidade, mas não apenas a ambiental, segundo o palestrante, esta é a última das sustentabilidades a ser atendida.
Em primeiro lugar está a sustentabilidade financeira, que vai possibilitar atingir todas as demais. “A atividade que não estiver sustentável não vai chegar nas outras”, advertiu. “A primeira coisa a se buscar é a certeza financeira”.
A outra sustentabilidade a ser priorizada é a social e de geração de renda, e, neste cenário, lembrou que o leite também é responsável pela geração de empregos na cidade ao movimentar as indústrias, comércios e serviços.
Condorelli ressaltou ainda que agronegócio é um dos principais multiplicadores de renda e empregos, muito mais que, por exemplo, uma fábrica de automóveis, que costuma receber subsídios do local em que será implantada.
E argumentou que a maior inimiga do meio ambiente não é a agricultura, mas a pobreza e a fome, e que cidades que têm a agropecuária como principal atividade apresentam melhores índices de IDH da população.
Mais exportações
O pesquisador da Embrapa Gado de Leite Paulo do Carmo Martins descreveu as cadeias do leite dos 25 países maiores produtores, que geram 80% da produção mundial de 930 bilhões de litros por ano (estatística de 2022).
Em sua maioria absoluta, desde 1996, houve diminuição do número de produtores na atividade, mas com aumento da produtividade, do número de vacas e da produção. “O mundo está concentrando a produção primária”, avaliou.
Já no ambiente brasileiro, de 1996 a 2017 (ano do indicador mais recente) uma propriedade leiteira encerrou a atividade a cada 17 minutos. “No Brasil está ocorrendo o mesmo fenômeno que está ocorrendo no mundo”, definiu. Da mesma forma, de 2022 a 2024 um cada atacadista fechou, assim como houve encerramento de um em cada cinco laticínios e um a cada quatro varejistas.
Sobre o consumo, Martins foi enfático: “O mundo vai continuar consumindo leite”. E mostrou um mapa múndi com a China ao centro e citou que o maior crescimento de população e de consumo vai se dar na Ásia. No entanto, advertiu: “Não somos competitivos na produção de leite no Brasil”. Conforme ele, o leite brasileiro “ainda não conseguiu se viabilizar nas exportações” pela “falta de preços e qualidade que o mundo busca”.
Mas fez uma ressalva que a região Noroeste do Rio Grande do Sul, onde o Milk Summit Brazil ocorre, se mostra competitiva na atividade.
O especialista exemplificou que o frango brasileiro pode ser facilmente encontrado no mercado chinês, enquanto o leite segue como a última cadeia agropecuária brasileira a se modernizar. E ainda acrescentou que o setor precisa responder às diferentes demandas dos consumidores. “O vegano acha que torturamos animais”, citou.
Também que é preciso esclarecer à sociedade que o produtor de leite não destrói a natureza. E que o leite não é somente alimento, mas que poder ter como causa uma “concepção de saúde”. “Não só falar sobre comida, mas com um propósito”, sugeriu o pesquisador. “Temos um novo consumidor que quer um novo propósito”.
Apoio no Estado
Entre os demais palestrantes, Jonas Wesz, da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), ressaltou as políticas públicas do governo estadual de apoio aos agricultores e pecuaristas familiares. Como a Operação Terra Forte, que ainda seleciona produtores participantes (e serão incluídos produtores de leite), o Milho 100% (troca-troca de sementes, também para a produção de ração e silagem) e o Bônus Mais Leite, ainda a ser lançado, que vai subvencionar ao produtor parte dos custeios e financiamentos do Pronaf.
Wesz destacou a relevância aos pequenos produtores de leite do Programa de Sementes e Mudas Forrageiras, que subsidia a aquisição do insumo. O incentivo e histórico, e foi incrementado no ano agrícola 2024/25, com a ampliação da subvenção de 30% para 50%, e com o limite por CPF de produtor (que pode também incluir os familiares), ampliado de R$ 600 para R$ 2 mil. “Como forma do Estado fomentar a distribuição de sementes”, resume a meta da iniciativa.
Atualmente são atendidas mais de 70 cultivares de espécies forrageiras anuais e perenes, de inverno e verão, que abrangem por ano 70 mil hectares, cerca de 10% do mercado formal de forrageiras. Ao todo, em 2024/25, foram beneficiados 18,7 mil produtores, 70% dos quais de leite e os outros 30% em pecuária de carne, 179 entidades como sindicatos rurais, em 185 municípios. “É uma qualificação muito relevante”, considerou.
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