Rural

Zarc para cereais de inverno muda classificação de solos e calendário

Objetivo é aprimorar gestão de riscos em culturas de trigo, triticale, cevada e aveia

Em culturas como o trigo, riscos climáticos envolvem excesso de chuva, geada e seca
Em culturas como o trigo, riscos climáticos envolvem excesso de chuva, geada e seca Foto : Divulgação Embrapa / CP

O Zoneamento Agrícola de Riscos Climático (Zarc) para o cultivo dos cereais de inverno no ano-safra 2023/2024 foi aprovado pelo governo federal com a publicação das portarias de 393 a 449. A atualização da indicação de cultivo deve permitir o aprimoramento na gestão de riscos em culturas como trigo, triticale, cevada e aveia. Os principais aperfeiçoamentos envolvem mudança no enquadramento de solos, que passam a ser em função da água disponível (AD), com seis classes, a partir da composição granulométrica pela quantidade de argila, silte e areia. Também houve antecipação de período de semeadura para cultivares de ciclo mais longo de trigo. Na cultura da cevada, foram ampliados os locais para produção de grãos para finalidades não-cervejeiras.

Conforme o agrometeorologista Gilberto Cunha, pesquisador da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, a nova metodologia facilita a melhor discriminação dos limites de risco – 20%, 30% e 40% - em escala municipal. Segundo Cunha, cada talhão de uma propriedade pode ter AD diferente, com recomendações específicas que não eram contempladas nos três tipos de solos até então considerados. “Na esfera privada, dos profissionais da área de seguro agrícola reivindicavam melhor discriminação espacial dos riscos climáticos que afetam a agricultura brasileira”, explicou.

Veja Também

Na cultura do trigo, houve antecipação do calendário de semeadura de até 10 dias para as chamadas cultivares do grupo 3, de ciclo mais longo. O pesquisador também cita como novidade a ampliação de municípios para a produção de cevada para finalidade de grãos, cuja demanda tem se ampliado para além do uso consumo humano e animal. "Temos o surgimento de novas plantas para produção de bioetanol, e os cereais de inverno se destacam com grande potencial”, destaca.

O cultivo dos cereais de inverno no Brasil pode, potencialmente, ser realizado do extremo Sul, na região de clima temperado, até o Centro e parte do Nordeste, na zona de clima tropical típico, em sistemas sequeiro e irrigado e, no caso do trigo, também de duplo propósito (forragem e grão). Os principais riscos climáticos envolvem o excesso de chuva no período de colheita, geada ao redor do período crítico da emissão das espigas e panículas e seca no estabelecimento das lavouras e na fase de enchimento de grãos, em escala municipal, de acordo com o ciclo de cada cultivar e da AD de cada solo.

Gestão integrada

Ferramenta de gestão de riscos e base das políticas de crédito e seguro rural, o Zarc precisa ser obedecido pelos produtores para terem os benefícios do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), do Programa de Subvenção ao prêmio do Seguro Rural (PSR) e de seguros privados. “Por isso destacamos que se dê especial atenção ao novo Zarc para não haver frustração de expectativa lá adiante caso houver necessidade de cobertura”, afirma Cunha. A adesão ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) exige observação dos períodos de semeadura das cultivares indicadas.

O pesquisador recomenda ao produtor baixar o aplicativo Zarc - Plantio Certo, o que facilita acesso às informações das portarias. “É fundamental que se faça uma gestão integrada da produção, olhando para os riscos de natureza climática ao qual o cultivo está exposto na localidade de interesse e quais as tecnologias de manejo da cultura preconizadas pela área de assistência técnica e pela pesquisa agrícola que comprovadamente dão bons resultados na região. É dessa combinação que se podem obter os melhores rendimentos de cereais de inverno e qualquer cultura que se vá a trabalhar”, assinala.

Para contribuir na diluição de riscos, também devem ser feito escalonamento dos períodos de semeadura, diversificação de cultivares por seu ciclo e características genéticas de resistência e de tolerância a doenças. Também a rotação de culturas é muito favorável aos cereais de inverno, tendo a aveia como cultura modelo. “Na agricultura de hoje, que envolve investimento vultosos, não se pode mais ignorar a gestão de riscos na produção como um todo”, diz.