Reportagem do Correio do Povo motiva pedido de CPI dos furtos de fios em Porto Alegre

Reportagem do Correio do Povo motiva pedido de CPI dos furtos de fios em Porto Alegre

Matéria utilizada na justificativa da abertura da comissão destacou que mais de 11 quilômetros de fiações já foram furtadas em Porto Alegre no primeiro trimestre

Felipe Faleiro

Caso aprovada, a CPI da Câmara terá prazo regulamentar de 120 dias, prorrogável por mais 60, para encerrar seus trabalhos

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Foi protocolado na Câmara Municipal de Porto Alegre o pedido de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os furtos de fios e cabos na Capital. O requerimento é assinado pela vereadora Mônica Leal e mais 11 parlamentares, número que a torna apta para instauração. A justificativa à solicitação de abertura traz parágrafos da reportagem publicada pelo Correio do Povo no último dia 20 sobre o problema do qual o jornal tem tratado há, pelo menos, um ano.

Na ocasião, o Correio do Povo trouxe dados da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) mostrando que mais de 11 quilômetros de fiações já foram furtadas em Porto Alegre somente no primeiro trimestre deste ano. “É de extrema urgência e relevância que esta casa averígue as denúncias nos termos do artigo 55 da Lei Orgânica do Município”, escreve a vereadora, que prossegue: “A sociedade merece uma resposta contra esses delinquentes que há anos seguem atuando”.

Há, ao menos, dez perguntas elencadas no pedido que a CPI deverá se propor a responder. Entre elas, a comissão buscará obter informações sobre os responsáveis pelo ramo criminoso, se os estabelecimentos receptadores destes fios e cabos estão regulamentados por lei e na Prefeitura, e se possuem alvará de funcionamento. Ainda, Mônica questiona “quais são as maiores dificuldades na identificação dos receptadores”, “por que esta cadeia criminosa continua em franca atividade” e “essa indústria criminosa é alimentada por quem”.

Além de Mônica, nove dos demais vereadores a assinar o pedido são da base do governo Sebastião Melo. São eles o presidente Hamilton Sossmeier, além de Cassiá Carpes, José Freitas, Alvoni Medina, Airto Ferronato, Claudia Araújo, Lourdes Sprenger, Márcio Bins Ely e Tanise Sabino. Os outros dois são da oposição: Aldacir Oliboni e Pedro Ruas. “Isso mostra que há interesse de todos os lados em saber mais sobre a questão”, comenta a vereadora.

Ela diz acreditar que a comissão deva ser instalada em até uma semana ou dez dias, no máximo. Caso aprovada para início, a CPI terá prazo regulamentar de 120 dias, prorrogável por mais 60, para encerrar seus trabalhos. “Não podemos mais assistir a isto acontecer, e não posso ficar como mera espectadora, vendo 900 mil pessoas sendo prejudicadas por este problema. São pessoas que sofrem com isso, escolas, comércios, e isto requer medidas de urgência”, argumentou Mônica.

“A CPI é importante para que possamos buscar os responsáveis por essa prática criminosa que tem trazido inúmeros prejuízos aos munícipes e para a própria Prefeitura de Porto Alegre, uma vez que tal prática desencadeia situações constrangedoras e inviabiliza o desenvolvimento econômico”, afirma o vereador Medina. Já Freitas destaca que é um dos autores da lei que regulamenta as atividades em Porto Alegre. “Este é um tipo de crime que tem crescido muito em nossa cidade, sendo necessário apertar o cerco, inclusive na receptação. É preciso investigar mais sobre este tipo de crime”, comentou o vereador.

As perguntas das quais a CPI deve abordar são:

1. Quem são as pessoas e empresas que lidam com este ramo?
2. Qual é o caminho que estes produtos percorrem?
3. Os estabelecimentos que recebem estes materiais, estão regulamentados por lei?
4. O que os regula?
5. Estão regularizados na prefeitura?
6. Possuem alvará?
7. Quais são as maiores dificuldades na identificação dos receptadores?
8. Porque esta cadeia criminosa continua em franca atividade?
9. Essa indústria criminosa é alimentada por quem?
10. Quem são os maiores interessados nesta atividade?

Capas do Correio do Povo de abril de 2022 trataram sobre o roubo de fios

Problema é acompanhado há meses

A ocorrência do furto de fios em Porto Alegre é abordada há pelo menos um ano pelo Correio do Povo. Em 2022, logo após o aniversário de 250 anos da cidade, o jornal mostrou que a iluminação especial instalada em estátuas e monumentos do Parque de Redenção não durou nem um mês. Logo após as matérias, uma operação recuperou duas toneladas de cabos furtados. 

Em parceria com o Estado, o município criou uma força tarefa permanente de combate aos crimes de furto, roubo e receptação de fios de cobre em abril. A ação integrada contou com agentes e fiscais de diversas áreas da prefeitura, com apoio da Guarda Municipal e forças policiais como Brigada Militar, Polícia Civil, entre outros. No mesmo mês, o prefeito Sebastião Melo anunciou que pretendia enviar um projeto à Câmara dos Vereadores estabelecendo que a venda de cobre em Porto Alegre seja somente com procedência. O projeto acabou aprovado e foi sancionado em junho

Mas não foi o suficiente para frear a ação dos criminosos. No mesmo mês da sanção, o alvo da vez foi a Praça da Matriz. Em um verdadeiro jogo de empurra-empurra, autoridades não sabiam explicar de quem era a responsabilidade para recuperar a iluminação da praça no coração do Centro Histórico. O caso motivou nova mobilização das patrulhas de segurança. No mês seguinte, foi o Parque Marinha que ficou no escuro após a açõa dos criminosos.

Novas operações ocorreram ainda em junho, mas seguiram em agostoem setembro e em novembro, pelo menos.

Ainda assim a audácia dos grupos criminosos prevaleceu. Mesmo com as ações, pontos da cidade voltavam ao alvo dos bandidos e até mesmo locais muito movimentados, como o Túnel da Conceição, não deixou de ficar às escuras. Também foram afetadas em situações distintas, mas motivadas pelo mesmo problema, as aulas no Instituto de Educação e até mesmo serviços da Carris.

Mais recentemente, no mês passado, o Correio do Povo voltou a abordar que novos problemas foram registrados na Redenção


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