Brasil abateu 16 milhões de toneladas de bovinos em 2023, mas oferta deprimiu preços, aponta NESPro

Brasil abateu 16 milhões de toneladas de bovinos em 2023, mas oferta deprimiu preços, aponta NESPro

Carta conjuntural do núcleo de pesquisa da Ufrgs, lançada na Expointer 2023, aponta que China é destino de 54,7% da proteína brasileira exportada, mas país asiático está pagando menos

Patrícia Feiten

Apresentação dos dados foi conduzida pelo coordenador do NESPro, professor Júlio Barcellos (o quarto, da esquerda para a direita)

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Uma análise do desempenho da pecuária gaúcha no primeiro semestre deste ano foi apresentada nesta segunda-feira pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NESPro), durante a programação da Expointer 2023. O grupo de pesquisas lançou a Carta Conjuntural – Bovinocultura de Corte, no auditório da Federação dos Clubes de Integração e Trocas de Experiências (Federacite), no Parque de Exposições Assis Brasil, em Esteio.

A apresentação foi conduzida pela equipe do NESPro, coordenada pelo professor Julio Barcellos. Segundo Barcellos, que iniciou sua explanação mostrando dados do mercado mundial de carne, os números refletem um cenário de retração de consumo em nível global e de recuperação da competitividade da pecuária no Brasil. “O mundo está numa perspectiva de economia. A China tem dificuldade de inflação interna, o Mercosul está com preços definidos e isso faz com que o setor (no Brasil) tenha de pensar. As questões apontam para melhorias (de produtividade), o ciclo da pecuária começa lentamente a ser revertido. Não é a primeira vez que a pecuária sairá de momentos difíceis”, resumiu. 

De acordo com os dados do estudo, o abate de bovinos no Brasil totalizou 16 milhões de toneladas no primeiro semestre deste ano, frente a 14 milhões no mesmo período de 2022. Hoje, a China absorve 54,7% da carne bovina exportada pelo Brasil, mas os preços pagos pelo país asiático pela tonelada da proteína brasileira caíram 10% na mesma base de comparação, disse Barcellos. Um efeito desse cenário, agravado pela queda das cotações do boi gordo no mercado interno – no Rio Grande do Sul, o quilo vivo hoje está em torno de R$ 7 –, é a diminuição do peso por carcaça. “No Brasil, com o baixo preço, o produtor fica sem força para vender os animais com peso maior e está vendendo uma forma um pouco mais apressada”, explicou o professor. 

Entre as categorias que estão sendo encaminhadas ao abate no Rio Grande do Sul, a equipe do NESPro observou um crescimento no número de fêmeas e machos de 13 a 24 meses de idade. Na avaliação dos pesquisadores, isso indica um aumento da eficiência dos sistemas produtivos no Rio Grande do Sul e a tendência de redução da idade de abate. 

A Carta Conjuntural apontou ainda uma redução do ágio do preço do terneiro em relação ao boi gordo, que neste primeiro semestre ficou abaixo de 1%. “Este é um sinal claro do ciclo de baixa da pecuária, e a gente levemente vem observando evidências de uma possível reversão desse ciclo para os próximos 18 meses, com aproximação maior (entre as duas categorias)”, disse Helena Fagundes, integrante da equipe do NESPro.


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