Recomeçar depois dos 50 não é apenas uma possibilidade – é uma realidade comprovada pela ciência. Apesar do envelhecimento, o cérebro humano mantém a capacidade de adaptação e aprendizado, permitindo que novas carreiras, paixões e desafios sejam explorados a qualquer momento da vida.
A jornalista Adriana Haas, especialista em Neurociência e colunista do Bella Mais, explica como a neuroplasticidade – a capacidade do cérebro de formar e reorganizar conexões neurais – sustenta essa reinvenção. “O cérebro possui a capacidade de se adaptar e mudar ao longo de toda a vida. A plasticidade cerebral diminui com a idade, mas nunca cessa, permitindo que pessoas em qualquer fase possam aprender e começar novas atividades”, afirma.
Esse processo acontece porque cada nova experiência cria e fortalece conexões entre os neurônios, oferecendo caminhos que tornam o aprendizado contínuo. Isso explica por que é possível iniciar uma nova profissão, aprender um idioma ou até mudar de área depois dos 50, 60 anos ou mais.
Ao contrário da crença popular, algumas funções cognitivas melhoram com o tempo. A regulação emocional e a capacidade de enxergar o contexto mais amplo das situações são habilidades que se aprimoram com a idade, tornando as pessoas maduras excelentes mentoras e tomadoras de decisão. “A experiência acumulada cria um repertório que facilita a adaptação a novas situações, tornando o recomeço mais seguro e assertivo”, explica Adriana.
O conceito de sabedoria, no entanto, não é apenas um efeito da idade. Segundo a pesquisadora, “é preciso trabalho para desenvolvê-la, pois não é um direito adquirido automaticamente ao envelhecer”.
O receio de mudanças na maturidade tem raízes tanto biológicas quanto culturais. Do ponto de vista do cérebro, qualquer novidade é interpretada como uma possível ameaça. Esse mecanismo, que nos protege desde os tempos primitivos, faz com que tenhamos resistência a sair da zona de conforto.
No entanto, Adriana destaca que o peso da construção social também é determinante. “Na maturidade, já construímos nossa vida sobre bases sólidas, como carreira e família. Mudar significa enfrentar incertezas e, muitas vezes, o medo de decepcionar aqueles ao nosso redor.”
Para vencer esses bloqueios mentais, a recomendação é simples: dar o primeiro passo. “Quando iniciamos novas experiências, criamos caminhos alternativos no cérebro, enfraquecendo conexões neurais ligadas ao medo e às crenças limitantes. E, ao persistirmos, esses novos caminhos se tornam predominantes”, explica Adriana. Pequenos passos podem transformar desafios antes considerados intransponíveis em oportunidades concretas.
A confiança se constrói na prática, e a autoestima precisa ser resgatada de uma forma mais profunda. “Muitas mulheres associam autoestima à validação externa – seja pela aparência ou pelo tempo dedicado às necessidades dos outros. Precisamos resgatar uma autoestima baseada no autoconhecimento e na aceitação, menos ligada à aprovação alheia”, afirma Adriana.
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👩🏽💻 Novas oportunidades profissionais
Apesar de ainda enfrentar desafios, o mercado de trabalho está mudando. O aumento da expectativa de vida e a valorização da diversidade etária abrem novas portas para profissionais maduros. Dados recentes do mercado de trabalho brasileiro evidenciam um crescimento significativo na participação de profissionais com mais de 50 anos, tanto no emprego formal quanto no empreendedorismo.
De acordo com a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2022, o Brasil registrou 13.454.522 trabalhadores com idade superior a 50 anos ativos em diversas ocupações. Especificamente, na faixa etária de 50 a 59 anos, houve um crescimento expressivo na geração de empregos formais. De janeiro a outubro de 2024, o saldo de novos postos de trabalho formais para esse grupo aumentou 133,7% em relação ao mesmo período de 2023, superando a média geral de crescimento de 18,6%.
O empreendedorismo também tem se mostrado uma alternativa crescente para a população sênior. Dados do Sebrae indicam que, dos 29,8 milhões de proprietários de negócios no país, cerca de 4 milhões são liderados por empreendedores com mais de 60 anos.
A Maturi, plataforma especializada na recolocação de profissionais mais velhos, revelou que 68% das pessoas acima de 50 estão em busca de mudanças profissionais. Entre as principais razões estão a busca por melhores rendimentos, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e novos desafios.
Além disso, histórias inspiradoras, como as de Fernanda Torres e Demi Moore no cinema, ou de Glória Pires e Conceição Evaristo em seus respectivos campos, mostram que o sucesso na maturidade é uma realidade.
A sociedade ainda enxerga o envelhecimento como um declínio, e esse estigma precisa ser combatido. “O etarismo é um preconceito socialmente aceito e, por isso, passa despercebido. Como consequencia, nós mesmos internalizamos essa visão e nos sentimos ‘perdendo a importância’ com o tempo”, alerta Adriana.
A chave para transformar essa percepção está na mudança de mentalidade – tanto individual quanto coletiva. Na prática, isso significa investir na atualização constante, cultivar novas relações e se permitir explorar diferentes caminhos.
Manter o cérebro saudável e disposto a encarar desafios passa por hábitos essenciais: boa alimentação, atividade física e, sobretudo, aprendizado contínuo. “Aprender coisas novas fortalece a neuroplasticidade e amplia nossas possibilidades. E manter uma vida social ativa é crucial, pois amizades – tanto antigas quanto novas – trazem frescor à vida e diferentes perspectivas”, explica Adriana.
Com a longevidade aumentando e um mercado de trabalho em transformação, o recomeço na maturidade não só é possível como pode ser a melhor fase da vida. Afinal, como reforça a pesquisadora, “a maturidade não é um fim, mas uma nova oportunidade de voar cada vez mais alto”.
