Alerta para a conservação de solo e água

Alerta para a conservação de solo e água

Associação pede ao governo para rediscutir e readequar o Sistema Plantio Direto à realidade trazida pelas extremidades climáticas e pela necessidade de garantir produção agropecuária sustentável e contínua

Itamar Pelizzaro

Terraços para retenção de água da chuva conservam umidade do solo e evitam a lixiviação de nutrientes utilizados no sistema de semeadura na palha

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A busca por terras férteis é ancestral à agricultura moderna. No Rio Grande do Sul, ações como a Operação Tatu, na década de 60, perseguiram esse objetivo, que ganhou aliados tecnológicos como o Sistema Plantio Direto (SPD). A mudança trouxe contribuições para uma agricultura conservacionista. Com princípios de manejo dos solos e de água, o foco era melhorar a rentabilidade das cadeias produtivas agropecuárias e mitigar os efeitos das mudanças climáticas.

Agora, após três safras de verão fulminadas por estiagens no Estado - sequência inédita em mais de um século -, e após o excesso de chuva que destruiu os cultivos de inverno em 2023, os apelos por novas mudanças ganham destaque. O clamor de estudiosos é pela necessidade de conservar o solo e a água como estratégia vital para a continuidade da produção mundial de alimentos, porém, com sustentabilidade e estabilidade produtiva.

O coordenador da Associação de Conservação de Solo e Água (ACSA), Pedro Selbach, professor PhD da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), adverte para a necessidade de reavaliar e readequar o SPD. Segundo ele, o sistema tem sido desvirtuado pelo relaxamento de práticas capazes de armazenar água ou de retê-la ao máximo possível. “Isso não está acontecendo”.

“O pessoal está tendo um confundimento de que plantio direto é apenas utilizar semeadora com essa capacidade, mas não é só isso”, argumenta o professor Pedro Selbach.

O alerta foi levado a representantes do governo federal no Rio Grande do Sul no início de março. A entidade apresentou uma proposta de trabalho com foco na mitigação dos efeitos das extremidades climáticas na produção agrícola. O documento foi recebido pelo superintendentes regionais do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Milton Bernardes, e do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), José Cleber Dias de Souza. “Entendemos (o tema) como muito importante e recebemos com simpatia essa iniciativa da sociedade civil. Queremos avançar e aprofundar essa discussão”, afirmou Bernardes. Uma nova reunião deve ocorrer em abril, com a formação de um grupo de discussão sobre as questões propostas pela ACSA.

Efeito esponja

O engenheiro agrônomo Ivo Lessa, consultor da ACSA e representante da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) no Conselho Estadual de Meio Ambiente (Consema), da Secretaria de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), chama a atenção para a importância de ampliar a abrangência do conceito de conservação do solo e da água. Além de buscar a legalidade de reservar recursos hídricos em Áreas de Preservação Permanente (APPs) e de manter nascentes, o especialista reforça a necessidade de os agricultores tornarem os solos capazes de absorver ao máximo a água da chuva no local onde cai, respeitando seu caminho natural de infiltração e escoamento. “A conservação promove o efeito esponja no solo e ajuda na manutenção das nascentes e dos córregos”, explica Lessa.

A corrida para obedecer às janelas ideais de plantio frente aos revezes climáticos dos últimos anos é outro obstáculo.

“As dificuldades atropelam o processo, o plantio morro acima, morro abaixo favorece a erosão e a perda dos solos”, reforça Ivo Lessa.

Com quebras de safra sucessivas, o agricultor endividado não investe em equipamentos preparados para semear em curvas e respeitar a declividade dos terrenos. Da mesma forma, não mais contrata profissionais devidamente capacitados a conduzi-los de forma a evitar a compactação da terra e a resistência de plantas daninhas, pragas e doenças aos defensivos agrícolas.

O reflexo ainda aparece na incapacidade financeira de contratar profissionais e empresas para realizarem análises e correções de solo para que as culturas possam expressar todo o seu potencial produtivo. “De forma geral, nossos colegas agrônomos conseguem identificar o uso adequado (de corretivos de acidez), evitando práticas de revolvimento de solo e de trânsito desnecessário”, diz o professor.

Construção de solo

Pedro Selbach lembra que o sucesso do Sistema Plantio Direto não está alicerçado em apenas uma ação, mas no conjunto delas. “São várias práticas que devem ser adotadas para que o sistema seja implantado corretamente e possa beneficiar o produtor, garantir a longevidade do solo e contribuir para o meio ambiente”, ressalta. O docente refere-se às prerrogativas que devem ser respeitadas no que chama de “construção” de um solo capaz de nutrir plantas na seca e infiltrar excessos de água em períodos chuvosos. E diz que, para que a finalidade seja alcançada, primeiramente, é preciso respeitar as características químicas, físicas e biológicas da área plantada. É necessário, também, que todas elas trabalhem ao mesmo tempo.

Na parte química, enquadram-se aspectos como, por exemplo, quantidade e disponibilidade de nutrientes para as plantas. Na questão física, estão características como porosidade e estruturação. “Isso tem influência na dinâmica da água dentro do solo e da própria aeração necessária para as raízes das plantas. E, consequentemente, facilitam a infiltração e o tornam um depósito de água”, analisa. Já a parte biológica do solo inclui a diversidade dos macro e micro organismos, que fornecem o devido substrato para a captação e armazenamento do dióxido de carbono (CO2) da atmosfera.

Selbach lembra ainda que a rotação de culturas nas estações quente e fria propicia um melhor aproveitamento dos nutrientes trazidos pelos diferentes sistemas radiculares das plantas e pela cobertura vegetal, viva ou morta (palha). “Isso serve tanto para proteger o solo do impacto das gotas de chuva quanto para o incremento de matéria orgânica”, diz.

Visão conservacionista e trabalho contínuo contra a erosão

Comparação entre o modelo de semeadura “morro acima, morro abaixo” (na parte superior da imagem) e do sistema de semeadura em nível, acompanhando os terraços | Foto: Divulgação / CP

Quando se formou em Agronomia pela Universidade de Passo Fundo (UPF), em 1981, Humberto Falcão voltou às terras do pai, Manuel Antônio Falcão, no município de Sarandi. A preocupação era adotar mecanismos conservacionistas para evitar a erosão do solo. “Na época, vivíamos o plantio convencional, a perda de solo era terrível”, lembra.

O trabalho começou para converter as áreas ao Sistema Plantio Direto (SPD) e fazer o possível para diminuir o processo erosivo. Passados mais de 40 anos, o trabalho contínuo e minucioso resulta, hoje, em produtividade e resiliência das culturas em períodos climáticos críticos. A Sementes Falcão tem glebas que totalizam em torno de mil hectares nos municípios de Sarandi, Ronda Alta e Pontão, com rotação de culturas de verão (soja e milho) e inverno (aveia branca e trigo).

O SPD foi adotado em uma área experimental de 20 hectares, plantada em 1982.

“Tivemos uma série de dificuldades, como todo mundo, porque o início de uma nova tecnologia é mais difícil, mas superamos e, no ano seguinte, chegamos a 200 hectares”, conta o produtor Humberto Falcão.

A estratégia foi repetida sucessivamente nas demais áreas, começando pela correção de solo no aspecto químico e na descompactação. No inverno, Falcão incrementava a cobertura vegetal, consorciando aveia preta e ervilhaca, plantios eficientes para a estação de baixa temperatura.

Com o tempo, percebeu-se que a água da chuva corria pelos terraços base larga em desnível, herdados do sistema convencional, e corria para fora da propriedade. “Os desaguadouros, que eram a convergência das águas, não suportavam tanto volume e velocidade de água e acabavam criando vossorocas (também conhecidas como ravinas, que são buracos causados pela água em solos sem proteção de vegetação)”, conta.

Terraço For Windows

Em nova análise, os terraços foram substituídos por um novo sistema. “Com apoio da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, fizemos um trabalho utilizando a ferramenta computacional Terraço For Windows, para calcular novos terraços para que suportassem as águas, não mais com gradiente colocando a água para fora, e sim tentando segurá-la dentro da propriedade”, detalha. Falcão sabia que, mesmo com o sistema de plantio na palha, enfrentaria o escorrimento das águas. “Porque a rampa das coxilhas é longa. Normalmente, a partir de 110 metros de comprimento de rampa há um processo erosivo por baixo da própria palha”, diz.

A preocupação vinha da ocorrência de grandes volumes de chuva durante vários dias seguidos.

“O solo satura e acaba transbordando o copo. Esse transbordamento leva a um escorrimento que, avolumando-se ao descer a coxilha, é como se a gente estivesse removendo a nata do leite”, compara.

Nessa situação, a riqueza acumulada pelo sistema de plantio na palha, aos longos dos anos, acabava removida. “Por isso, a necessidade, em nossa visão, de construir terraços de base larga em nível. É justamente para que esse excedente fique retido nos terraços e infiltre no solo lentamente, o que é fundamental para que as águas saiam limpas nas nascentes e nos rios, sem carregar solo, fertilizantes e aquilo que a gente vem tentando construir que é a camada rica da matéria orgânica, húmus, que é tão preciosa para a atividade agrícola”, descreve o agricultor.

O processo exige tempo e trabalho rigoroso de construção e nivelamento dos terraços. “Qualquer desnível acaba acumulando mais água neste ponto e pode, em algum momento, transbordar”, alerta. O terraço de base larga em nível tem 12 metros de extensão, que é dividida em sessões de seis metros e adição de mais área de superfície plantada. “Muitas vezes o produtor pensa que vai perder área, mas é o contrário. Esse terraço é cultivável, precisa de semeadora um pouco menor”, explica.

Trabalho ininterrupto

Além de fornecer umidade para as plantas, a técnica retém água no solo em períodos chuvosos, evitando erosão. “A gente ganha nos dois lados”, recomenda Falcão. O trabalho nas áreas é ininterrupto e sempre à mercê dos caprichos do clima, como em setembro, outubro e novembro passados, quando o acumulado de chuva chegou a 1.600mm, destruindo o potencial produtivo das culturas de inverno como o trigo e complicando a fase de semeadura das lavouras de verão. “Nosso trabalho é de luta permanente contra os processos erosivos, algo a que todos temos que nos dedicar porque o futuro das gerações está diretamente vinculado à capacidade dos nossos solos de produzir alimentos. Com erosão, a tendência é de que os solos acabem perdendo qualidade e potencial produtivo, comprometendo a produtividade no longo prazo. Obviamente, sem agricultura não há civilização”, diz.

A colheita exige uma plataforma específica para o terraço. “Isso nunca foi um problema e nunca vai ser, porque o problema maior é o processo erosivo e não queremos perder um insumo fundamental, que é a água. Se perdermos a água, principalmente em períodos de estiagem, vamos estar perdendo o principal”, salienta.

Plantio em contorno ajuda a armazenar água

O sistema de semeadura “morro acima, morro abaixo” é um dos principais geradores de erosão e da redução da fertilidade dos solos manejados no Sistema Plantio Direto, conforme apontamentos da Embrapa Trigo. A empresa incentiva a semeadura em contorno - transversal ao declive do terreno -, prática adotada pelo agrônomo e produtor Humberto Falcão nas áreas da Sementes Falcão.

O produtor garante que o manejo confere velocidade às águas no seu caminho, do alto ao sopé dos morros, percorrendo os sulcos onde estão depositadas sementes e fertilizantes, arrastando insumos e solo.

“Já com terraço e semeadura em contorno, temos mais um acréscimo de impedimento ao processo erosivo pelos micro terraços formados com os sulcadores”, explica.

Falcão detalha que o uso de sulcadores para insumos forma micro terraços que auxiliam na infiltração da água no terreno. “É um ponto importantíssimo quando falamos em ter um sistema de plantio direto associado ao sistema de terraço base larga em nível”, destaca.

Conforme o agrônomo, as produtividades nas culturas evoluíram muito a partir da melhoria da qualidade genética dos cultivares, mas não são apenas de boas sementes e adubos que vão dar resultado. Na visão do produtor, a boa colheita vem de uma combinação de ações que envolvem cuidado com solo, equilíbrio nutricional, controle de doenças e pragas e novos germoplasmas, produzidos por empresas que investem em tecnologia no Brasil.

A boa estrutura de solo, ressalta o produtor, é ponto fundamental para a resiliência das culturas em períodos de estiagem como as últimas temporadas no campo gaúcho. Falcão diz que cada aumento de 1% no percentual de matéria orgânica no solo se converte em acúmulo de 250 a 270 mil litros de água por hectare. “Isso é muito significativo".

“Esse esforço para manter a camada superficial bem conservada, acumulando húmus, serve também para que tenhamos, neste depósito de matéria orgânica, um aumento da quantidade de água armazenada, que vai dar condições para a planta suportar um período mais longo”, diz Falcão.

Em boas condições, o solo oferece boa capacidade de penetração radicular das plantas, razão pela qual a semeadura das culturas de verão é feita com sulcador, o que facilita a penetração das raízes na terra em busca de água. “É muito importante, em períodos de estiagem, a planta não ter dificuldade para que a raiz desça a profundidades maiores e alcance a água necessária. Se fosse em ambiente com mais compactação e menos material orgânico, haveria dificuldade de a planta atingir patamares de produtividade que alcançamos hoje”, explica.

Ação economiza insumos e propicia mais renda

Em 2004 e 2005, cerca de 80% dos municípios gaúchos decretaram situação de emergência devido à seca. Foram emitidos aproximadamente 400 decretos em cada um desses anos, com a falta de chuva reduzindo o nível de água de rios, barragens e de lençóis freáticos que abastecem os poços.

Na região do Alto Uruguai, o cenário foi desastroso para a produção agrícola. Mesmo assim, o trabalho de conservação do solo nas terras da família Falcão deu sua resposta na produção. Enquanto a colheita de soja gerou em média 9 a 10 sacas por hectare pela região, a Sementes Falcão colheu 35 sacas/ha, um forte indício da capacidade de o solo garantir condições de produção mesmo em um ambiente inóspito.

“Tivemos uma experiência inicial de, um ano após a estiagem, não adubar a cultura no ano seguinte”, lembra. Depois de verificar os dados das análises de solo, feitas com grande detalhamento, a empresa observou rentabilidade melhor. “Deixamos de fertilizar, reduzimos custos consideravelmente com insumo naquele ano, mas a rentabilidade do negócio foi melhor”, conta.

Maior rentabilidade

Com o sucesso do empreendimento, o agrônomo decidiu manter a tática no ano seguinte para as lavouras de soja, no verão, e trigo e aveia, no inverno. “O segundo ano repetiu uma rentabilidade melhor do que se tivéssemos feito adubação. Para nossa grata surpresa (e evito falar isso porque isso impacta em uma decisão que possa ser tomada por agricultores que não tenham essas condições), fomos a cinco anos fazendo isso. A economia foi monstruosa, mas porque tínhamos um bom processo de conservação dos solos. Nossos fertilizantes não vão morro abaixo, eles permanecem”, afirma.

Os resultados de Falcão podem motivar outros produtores a refletir sobre as influência da conservação de solo e água na rentabilidade. Pelo trabalho perseverante, a propriedade se destaca por produtividades de 90 a 94 sacas de trigo por hectare e variação de 75 a 80 sacas na soja.

“Em anos ruins, o destaque aumenta pela capacidade que o solo tem de propiciar melhores condições para o desenvolvimento das plantas, em oposição a um solo já mais compactado, empobrecido, erodido, que perdeu a camada superficial riquíssima, que é a nata do leite.”

O agrônomo alerta que, embora a performance em sua propriedade sobressaia, os produtores gaúchos amargaram prejuízos enormes no ciclo de inverno, com perda de renda e endividamento. Ele reforça que o resultado é alicerçado em processos criteriosos e detalhados na análise de solo, que fornecem indicativos para a melhor decisão de ações a campo. Conforme Falcão, são coletadas e analisadas amostras de solo a cada dois hectares, sendo que cada amostra é composta de 21 subamostras, em três profundidades. “É um fator de multiplicação muito grande na amostragem, o que nos dá segurança para dizer se aquilo que estamos visualizando nas análises está correto ou não”, finaliza.

ENTREVISTA

“O solo é nosso grande reservatório”

Geomar Mateus Corassa, engenheiro Agrônomo, mestre em Agronomia e doutor em Engenharia Agrícola, é gerente de pesquisa e tecnologia do grupo CCGL/Rede Técnica Cooperativa (RTC) | Foto: Arquivo Pessoal / CP

Correio do Povo: O que é a Operação 365 e qual seu contexto na agricultura gaúcha?

Geomar Corassa: A Operação 365 é um projeto capitaneado pelo sistema cooperativo do Rio Grande do Sul, juntamente com a Embrapa e outras instituições, com o propósito de fazer uma agricultura cada vez mais eficiente. Entre seus pilares está promover o aumento de produtividade, da sustentabilidade e da estabilidade produtiva, muito através das melhorias química, física e biológica dos solos.

Correio do Povo: Qual a sua abrangência?

Geomar Corassa: A Operação 365 abrange 29 cooperativas vinculadas à CCGL e parceiras da RTC (Rede Técnica Cooperativa) e capacidade de alcançar milhares de produtores. Em 2024, o processo começa a dar seus primeiros passos no campo, depois de passar por um período de validação e de melhoria das métricas até que a gente chegasse à estrutura que considerasse adequada. O projeto passou por avanços relacionados ao monitoramento das informações, hoje 100% vinculado à plataforma digital SmartCoop, com capilaridade muito grande e poder de contribuir de forma significativa com a agricultura.

Correio do Povo: Qual a relação entre a parte aérea e a radicular das plantas neste processo?

Geomar Corassa: Quando a gente olha para o sistema radicular, dentro do solo, além de entender a dinâmica de crescimento, que é fator fundamental para a resiliência das plantas para suportar períodos de estresse, as raízes também são um grande promotor da qualidade do solo, através da sua decomposição posterior, e da melhoria da qualidade química, física e biológica do solo. O solo é o grande pilar da produtividade, a grande caixa que armazena a água da chuva e depois serve para a subsistência para as plantas. Olhamos para a parte aérea das plantas no sentido de proteger o solo com plantas crescendo o ano todo, o solo coberto os 365 dias do ano. A parte aérea é fator de transformação da energia solar em fotossíntese e também sequestrando mais carbono da atmosfera.

Correio do Povo: Quais as vantagens do uso correto de insumos?

Geomar Corassa: São muito diretos. Podemos citar o exemplo da dinâmica que envolve a correção do solo através de calcário, por exemplo, para equalizar o PH, que está intimamente relacionado com a disponibilidade dos nutrientes para as plantas. Através do uso de corretivos, como o calcário, a gente consegue elevar o PH a níveis adequados e melhorar a eficiência dos nutrientes e insumos, a exemplo das adubações de fósforo e potássio. São pontos que atuam de forma sinérgica. Além disso, a melhoria da qualidade física também interfere na capacidade de as plantas absorverem os nutrientes em camadas mais profundas, sem limitação física. A limitação física impede também a infiltração de água. Então, toda a dinâmica biológica dos microorganismos e as suas interações também atuam de forma contributiva para a melhoria da eficiência no uso dos insumos, melhorando a área radicular e, através das interações, disponibilizando nutrientes para as plantas.

Correio do Povo: Qual a importância do solo em anos de extremos climáticos?

Geomar Corassa: É fundamental para a resiliência dos sistemas agrícolas. Quando temos problemas de falta de água, temos que entender que o solo é nosso grande reservatório. Em médias anuais, temos volumes de chuva bem significativos e satisfatórios. Se esse volume fosse melhor distribuído, teríamos produtividades muito elevadas e satisfatórias. Como temos, eventualmente, problemas de má distribuição, essa água deveria ficar armazenada no solo. Aí entra a importância da qualidade do solo, principalmente da qualidade física para que a água possa infiltrar e ser armazenada, para que as raízes consigam crescer.

Temos dados de que, quanto mais profundo for o sistema radicular, mais dias sem chuva suportam as raízes . Com excesso de chuva não é diferente, porque o solo armazena a água, que, do contrário, perde-se e acaba sendo fator crítico para problemas de erosão, levando embora todos os nutrientes nos quais o produtor investiu. O solo está intimamente ligado à capacidade das plantas de suportar períodos de estresse e intimamente ligado à capacidade produtiva das lavouras.

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